A minha proposição é simples: se economia austríaca fosse realmente útil para entender o mundo, haveria uma alta demanda por economistas austríacos e eles seriam os mais bem pagos da profissão. E eles não são.
Austríacos são como médicos homeopatas. Você não encontra homeopatas nos melhores hospitais do mundo. Na hora do vamuvê, todo mundo quer um profissional atualizado nas técnicas mais modernas da Medicina mainstream. Ninguém quer ser operado por um sujeito que lê livros centenários como se fossem escrituras sagradas e que nem sabe operar os equipamentos disponíveis. Isso se reflete nos salários: pode haver um ou outro homeopata ganhando bem (seria impossível que isso não acontecesse!) ou com um canal de sucesso para leigos no youtube. Contudo, na média, homeopatas ganham mal porque a demanda por seus serviços é baixa. E por que é baixa? Porque as pessoas sabem que homeopatia não é lá grande coisa mesmo e não querem rasgar dinheiro. O mercado é sábio.
Vejamos quem trabalha nas empresas da vanguarda do capitalismo: a Google tem o Hal Varian, autor do livro que todos economista mainstream estuda na graduação ; a gigante Susan Athey trabalhou na Microsoft; e a Amazon possui 250 Ph.Ds em Economia. Quantos foram contratados pela sua formação austríaca? Cerca de 0. E olha que nem entrei no mercado financeiro, outro grande empregador de economistas mainstream. A beleza é que não preciso saber os motivos pelos quais as melhores empresas contratam economistas ortodoxos e não os austríacos. O mercado já falou.
Já ouvi a crítica de que o Governo distorce o mercado por subsidiar a formação de economistas ortodoxos, keynesianos ou sei lá o quê em detrimento dos austríacos. Ora, se os austríacos fossem úteis mesmo para as empresa, isso faria com que seus salários fossem ainda maiores devido a sua escassez relativa! E eu não vejo os ex-alunos do Instituto Mises sendo disputados a tapa pelas empresas.
Se os austríacos realmente acreditassem no funcionamento do mercado, eles apanhariam outros livros da estante para ler. Fariam exatamente como faz o mainstream da profissão: leriam Hayek e Mises não como verdades reveladas, mas sim como o que são: brilhantes autores entre tantos outros que contribuíram para a formação da nossa querida, maltratada e lúgubre Ciência.
Atualização:
Eu tuitei um resumo do post e o prof. Peter Boettke criticou a minha generalização sobre os austríacos. De fato, eu não estava me referindo aos melhores austríacos, como a turma excelente da George Mason U. Eu tinha na cabeça os austro-brazucas que rejeitam qualquer treinamento em teoria mainstream.
Boettke sugeriu dois textos ótimos sobre a questão. O segundo trata também do desempenho da economia austríaca no mercado de ideias. Recomendo fortemente (especialmente para os austro-brazucas):
ROSEN, Sherwin. Austrian and neoclassical economics: any gains from trade?. Journal of Economic Perspectives, v. 11, n. 4, p. 139-152, 1997.
YEAGER, Leland B. Austrian economics, neoclassicism, and the market test. Journal of Economic Perspectives, v. 11, n. 4, p. 153-165, 1997.
Eu já acho surreal boa parte da divisão entre os economistas ser entre dois grupos que derivam de teorias Keynesianos, os Keynesianos e os Monetaritas. E mais ainda que os Keynesianos sejam mais realistas que o Rei, já que Keynes não defendia exatamente que o Estado fosse um agente econômico tão presente de forma permanente.
Acho bem vindo que os chamados neoliberais, que não vejo muito porque são "neo" já que pouco acrescentam ao Liberalismo, tenham trazido os Austríacos de volta como fonte. Mas acho que nem eles defenderiam os austríacos como a Verdade Revelada.
Enfim, problemas advindos da democratização do acesso à informação. Quando todos têm acesso a tudo, cada um faz o que quer com o que lê.